terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Filme da semana: A pele que habito

   Eu queria ter visto esse filme antes. Esse foi o primeiro pensamento que eu tive assim que o filme acaba. Não sei porque não fui ao cinema, mas sei que eu queria ter visto antes. Conversei com algumas pessoas sobre o filme e sempre a mesma cara ou comentário de que ficou um tempo em silêncio antes de falar alguma coisa. Acho que chego até a descreve-lo como um filme de terror, não daqueles de muito sangue ou vampiros, mas de um terror moderno que atráves da ciência transforma o corpo de tal forma que o Dr. Frankstein teria alguma credibilidade.


   Nesse sentido o Dr Frankstein é o meu querido Antonio Banderas, que eu não acho bom ator, mas que nesse filme está muito bem. Ele é Roberto Ledgard, um famoso cirurgião plástico com uma vida cheia de desastres. Ao longo da história descobrimos que é viuvo e sua filha se suicidou. Não contarei mais spoilers, mas preciso falar sobre a pele sintética e perfeita que ele cria, a Gal. Ela possui esse nome em referência a sua esposa, mas eu me lembrei de Galatea, uma estátua feita por Pigmaleão em homenagem a Afrodite, afim de encontrar alguém a quem ele pudesse amar.  Acabou se apaixonando pela estátua, devido a sua beleza e, Afrodite, condoída pela dor de Pigmaleão, deu vida à estátua. Como não lembrar desse mito ao ver a cena de Roberto observando Vera, a sua nova criação:


   É uma história com muitas dores, muita violência. A chegada do tigre, tão fantasiosa possível e tão pulsional quanto a vida e a morte.  Nisso se aproxima de um filme de terror, tem história trágica, tem calabouço, tem sala com observação, tem cientista maluco, tem o serviçal que conhece toda a história... E o principal terror está por baixo da pele, há uma distância entre sentir o próprio corpo e o espírito, como se fossem entidades autônomas. Não há mocinha ou malvado na história, cada um está tentando conviver consigo mesmo nessa pele. Para habitar a própria pele de Roberto tem a dor, para Vera tem o medo. Preciso indicar que para mim é também uma história em que a castração é constante e perversa. A violência é explicita, tem fogo, tem arma de fogo, tem navalha e não como ameaça e sim utilizados.
    Almodóvar faz filmes lindos, outros engraçados e alguns como esse, incômodos. Lembro que assisti "Má Educação" e também fiquei assim, pensando no filme e no ser humano. Poderia enfocar a relação de Roberto e sua esposa, mas seria spoiler, poderia contar porque sua filha se matou, o que também seria spoiler, porém se você ainda não viu o filme é importante prestar muita atenção na festa de casamento e na trilha sonora das cenas que ali acontecem, nada é ao acaso para Almodóvar. O filme com cenas em flashback, comum na narrativa deste cineasta nos dá a pista de seu fim exatamente na cena em que está no cartaz que eu coloquei lá em cima. Como se fosse um sonho as história são contadas após um close no rosto dos atores.
   Por fim, a ambientação e a escolha das cores dos cenários são sempre perfeitos. Os quadros da casa de Roberto parecem recontar a própria história do filme com quiadros de pessoas sem rosto, muito vermelho sangue ou mesmo as esculturas de Vera de camadas de tecido, uma sobre a outra, feitas na verdade por Gaultier. 
   Adorei justamente porque ele é incômodo.

   Créditos e trailer:
  • A pele que habito -  La piel que habito (2011)
  • Direção - Pedro Almodovar
  • Elenco - Antonio Banderas, Elena Anaya, Marisa Paredes, Jan Cornet, Roberto Álamo, Eduard Fernández, José Luis Gómez
  • Gênero - Suspense, terror?
  • Duração - 131 minutos

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