“Quero ver você não chorar, não olhar pra trás nem se arrepender do que faz...” Quando era criança eu cantava esta música nesta época do ano, e sempre me significou que o ano acabou e chegava a hora de juntar a família para comemorar. Ao longo dos anos alguns hábitos podem ter mudado, mas juntar a família, que pode ser de amigos, para comemorar esse período, continua. E a cada ano algumas ausências passaram a ser sentidas, o avô, o tio, o amigo que não iriam começar um novo ano.
Uma cadeira vazia ou uma história sem contar, é assim que começamos a entender a palavra saudade, e saber porque ela dói tanto. O luto, esse sentimento que externaliza a dor da saudade, se não for elaborado, nos aprisiona num tempo em que viveremos eternamente presos ao instante onde a vida já deixou de existir, em que o presente está vazio e o futuro é sem sentido. Na criança a morte é vivenciada de forma mágica, não como definitiva, até com possibilidade de superação, é só lembrar dos desenhos animados. E quando falo de perdas não digo apenas da morte propriamente dita, mas das faltas transfiguradas nas inúmeras perdas que sofremos durante toda nossa existência, como quando se torna adolescente e existe o luto pela criança perdida nesse processo de crescimento.
A todo o momento há a falta, e como qualquer forma de dor, quando não aceitamos, traz sofrimento. Elaborar um luto é experiência, aprender a viver com a ausência, com perda, buscando algo novo que vá nos preencher, uma verdadeira aprendizagem. O luto é da morte, e não da vida, o que morre são partes de nós. Perde-se a identidade, então nos sentimos sozinhos e enfraquecidos para aceitar, mesmo o que já era previsto.
É certo sentir dor, é certo chorar e até mesmo sofrer, assim como também é certo continuar vivendo. Numa relação de amor, a perda sempre causará dor, e devemos experimenta-la, sendo que o que nos conforta é que o outro teve seu instante na eternidade e fez a diferença enquanto existia. Mas que o nosso instante ainda não acabou, e clama por ser bem aproveitado. A tendência hoje é fazer tudo depressa, o mais indolor possível, reduzindo-se a simbologia ao mínimo necessário. Isso tem conseqüências: as pessoas não conseguem fazer o processo de luto, há um ocultamento da morte, é só lembrar que tempos atrás, o velório ocorria na sala de casa, e hoje a morte é longe, é branca, no hospital.
As principais tradições religiosas – judaísmo, cristianismo, islamismo, budismo e hinduísmo – possuem seus próprios rituais e explicações para a morte. A finitude é a grande mãe dos filósofos. Vou sentir muito sua falta nesse Natal...
Olááa... nossa me emocionei com o post. É verdade hoje em dia é tudo tão rápido, pois vivemos na tal era digital, onde tudo precisa de velocidade. Esquecemos que na vida real o tempo é outro. Esquecemos do nosso tempo. Lindíssimas palavras, vou sentir falta de muita gente também neste Natal. Pessoas que se foram, mas como vc disse, vão deixar pra sempre muita saudade.
ResponderExcluirBEijos